Uma obra de arte não está sujeita a análise de certo ou errado. O relevante é o que ela comunica mediante sua linguagem simbólica.
O filme Desejo e Reparação informa uma questão peculiar, que por certo não é o foco do roteiro, mas contribui para trama: uma criança como testemunha de acusação.
Conforme afirmado, a leitura de uma obra de arte deve-se ater nos seus elementos simbólicos, portanto, toma-se "criança" em seu sentido metafórico. Noutros termos, a "menina" representa, dentro da linguagem poética, a testemunha cheia de rancor, ciúmes, disposta a fantasiar (e, quiçá, mentir) sobre a veracidade dos fatos supostamente narrados.
Noutro extremo, seu rosto angelical gera a confiança e credibilidade no espírito do julgador e o convence dos desígnios dela.
A experiência cotidiana nos processos, notadamente, os penais, demonstram a existência dessas testemunhas "crianças", isto é, adultos capazes, no entanto, que movidos pelos mais diferentes intentos (ou patologias) fantasiam durante sua oitiva perante o Judiciário e relatam uma "verdade dos fatos" artificiosa e doentia.
Dito dessa forma, talvez não lhe cause impacto, caro leitor. Todavia, veja o filme e depois reflita sobre os cuidados que o operador do direito deve ter com o exame da prova testemunhal.